El Marronzito


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Maneiro, sinistro e avassalador

No final deste post, você provavelmente vai dizer que achou um substituto para Michael Jackson

Geralmente, os posts do El Marronzito nascem no interior. Não, não falo da partes mais íntimas da minha cachola um tanto maluca, mas sim de Campinas, a terra que disputa com Pelotas o posto de município “I Will Survive” do Brasil. Porém, a postagem de hoje é “ixperta e sinixxxxstra”. Se você é mais malandro que mané, percebeu que acabei de falar em carioquês, a primeira língua oficial do Rio de Janeiro, a cidade maravilhosa cheia de encantos mil, terra do Zé Carioca, do Bonde do Tigrão e do MC Gringo, aquele que fecha com o monstro DJ. Para quem não sabe, a segunda língua oficial do Rio é o gringês Dona Armênia: o mulata, o brasileira, o favela, e a assim vai.

Para quem não sabe, estou na bela cidade que foi a segunda capital do Brasil para participar do 1º Encontro Nacional dos Correspondentes do Portal Viva Favela (quando este post for ar, eu estarei numa cidade que Ipanema é um carro antigo da Chevrolet, não uma o bairro da popozuda que conquistou o Tom Jobim).

Resumindo a ópera, o Viva Favela é um site de jornalismo colaborativo que completou 10 anos na última quinta feira, dia 21 de julho. “Ah, então se trata de um site que cobre os pagodes nas lajes e os principais bailes funks das comunidades cariocas, né?”

Morro da Mineira vista por um bueiro que não explodiu (graças a Deus)

Não, amigo leitor sem cultura. O Viva Favela dá a oportunidade de jornalistas e fotógrafos, amadores ou profissionais, a levarem para um grande número de pessoas notícias de seus habitats, coisa que a chamada grande mídia raramente o faz. A maioria dos jornalistas famosos não subiriam o morro nem contando com a ajuda do Capitão Nascimento e dos X-men juntos.

Embora haja muitos problemas, periferias e favelas têm muitas coisas bacanas, mas para a grande mídia (da qual eu também faço parte), é comum evidenciar os acontecimentos ruins. No caso dos jornais, se a manchete negativa dividir espaço com uma mulher com os glúteos à mostra, melhor ainda.

E agora, você caro leitor se questiona. “Pô, mas você não mora no morro, então porque está pagando de Buscapé  (o menino fotógrafo do ótimo Cidade de Deus) e se metendo no esquema?”. Simples, porque o Viva Favela, que é um dos braços da Ong Viva Rio, estrapolou as barreiras “territoriaix” e chegou aos quatro cantos do país graças a correspondentes comunitários das periferias. É aí que surge a minha pessoa de havaianas, cabelo pintado de amarelo e falando na língua do xis, mermão.

Resumindo, estive ao lado de mais 13 correspondentes comunitários, pessoas de origens e estilos diferentes: o baiano falador e piadista, a paulistana que fala meu, o mano que curte um rap firmeza, o mineiro que diz que tudo é ‘logo ali’, a menina descolada da ilha catarinense, a cearense sorridente e arretada, o pernambucano das roupas coloridas e mais um monte de estilos. Obviamente, não dá pra não falar da equipe carioca que nos recebeu. O menino fotógrafo que manda bonito no miudinho, a menina socióloga que calça All Star e odeia o FHC e a jornalista suburbana marmiteira fã de uma banda meia boca que canta músicas idem.

Olha aí a sede do Viva Rio. Quem não se lembra quando a Xuxa falava das correspondências que poderiam lher ser entregues na Rua do Russel?

Em cinco dias de encontro, rolou muita coisa legal. Debates que contaram com a presença de figuras como o antropólogo e sociólogo Hermano Vianna (idealizador dos programas Esquenta, Central da Periferia e outros do tipo Regina Casé way of life), a jornalista Cristina Dissat (do genial site Fim de Jogo) e muito papo com o pessoal da Viva Rio. Fotógrafos, jornalistas, editores de vídeo, blogueiros, pagodeiros, líderes de comunidades e mais uma “bonde” de gente bacana. Também rolou uma visita ao Morro da Mineira, que faz parte do Complexo do São Carlos, onde foram realizadas oficinas de foto e vídeo. Lógico que eu tinha que fazer algo genial e acabei me perdendo nos becos do morro (detalhes sobre os diálogos entre o perdido e os manos da laje nos próximos posts). Lá encontrei uma criança de cinco anos que duvidou da minha masculinidade por causa do brinco e um caso de assédio sexual explícito.

Para fechar a semana com chave de ouro, o mitológico Circo Voador, que recebeu shows épicos de Cazuza, Legião Urbana, Paralamas do Sucesso e uma banda de uns caras barbudos que cantam Ana Júlia, foi palco pra várias apresentações em comemoração aos 10 anos do Viva Favela.

Se você gosta de ver sua comunidade na TV, agradeça a este rapaz

Houve shows dos Periferas, Luiz Melodia, o rei Gerson King Combo, B. Negão, Elza Soares entre outras atrações. Até mesmo os correspondentes se apresentaram com Rap e Poesia em uma espécie de rádio laje de fronte aos belos Arcos da Lapa. Como eu não sei cantar e meus poemas são mais pobres do que uma letra do El Tchan, fiquei fotografando. O ponto alto da noite foi a apresentação do mito João Black, um cantor do chamando “funk familiar” que usa sapatos italianos, luvas brancas no melhor estilo Michael Jackson Mickey Mouse e levanta até maria-mole derretida com sua alegria.

Chega, já falei demais. Abaixo as fotos.  Nos próximos posts, contarei das minhas trapalhadas no Morro do Mineira e dessa cidade maluca e deliciosa chamada Rio de Janeiro.  Como diz o Chapolin Colorado Rubro-Negro da Urca: “Siga meus bondes”.

O rango no morro teve a ilustre presença dos policiais da UPP (Unidade de Polícia Pacificadora,) do Complexo São Carlos. A última vez que comi perto de armas foi no quartel

Olha eu aí contando lorotas sobre meu trabalho numa mesa que contou com outros fotógrafos

A editora de conteúdo do Viva Favela Daniella Guedes fala (e treme) perante a plateia que compareceu ao Circo Voador para acompanhar os shows

Bola, correspondente comunitário e rapper soltou o verso no show

Observado por Getúlio Vargas, o rapaz do memoria do "Pai dos Pobres", sede dos encontros do encontrão, dá uma pescada básica

Capa do Jornal "O Cidadão", do Complexo da Maré. Não sabia que o Caveirão quando sobe o morro tem um áudio que diz "Vamos levar a sua alma". Lamentável isso

O rei do soul e criador dos mandamentos Black, Gerson King Combo, também deu o ar da graça no show. Todos dança

Fernando Mascote, jovem fotógrafo marrento e lek piranha. Dança melhor que o Vitinho avassalador e ainda faz fotos. Dig din, dig din

Os mineiros que se encontraram no RJ. O fantástico Seu Rodrigues, dono de uma história e sensibilidade fotográfica única e o correspondente Douglas

A galera do Projeto Morrinho levou sua arte para a grande festa. Se trata de uma maquete construída pelo pessoal da comunidade favela Pereira da Silva. Ótima sacada, principalmente se levarmos em consideração que no interior tem gente que usa tijolo baiano para ações pecaminosas

Elza Soares e Luiz Melodia

LiuMr Vato Loco representou Heliopólis na laje Rádio Favela

Gerson King Combo e os kingcombinhos de 2 hits

Olha o "bonde" aí em um dos pontos mais altos do Morro da Mineira. Antes era impossível passar por esse ponto sem correr risco de morte. Hoje, a situação está melhor, mas a comunidade carece de projetos sociais

Para fechar o post com chave de ouro, o mito, o único, o rei do funk popular familiar: João Black. Vejam o vídeo e me digam se esse cara não é uma figura

“Defunto não dá autógrafo”.
João Black mito. Sem mais.