Geralmente, os posts do El Marronzito nascem no interior. Não, não falo da partes mais íntimas da minha cachola um tanto maluca, mas sim de Campinas, a terra que disputa com Pelotas o posto de município “I Will Survive” do Brasil. Porém, a postagem de hoje é “ixperta e sinixxxxstra”. Se você é mais malandro que mané, percebeu que acabei de falar em carioquês, a primeira língua oficial do Rio de Janeiro, a cidade maravilhosa cheia de encantos mil, terra do Zé Carioca, do Bonde do Tigrão e do MC Gringo, aquele que fecha com o monstro DJ. Para quem não sabe, a segunda língua oficial do Rio é o gringês Dona Armênia: o mulata, o brasileira, o favela, e a assim vai.
Para quem não sabe, estou na bela cidade que foi a segunda capital do Brasil para participar do 1º Encontro Nacional dos Correspondentes do Portal Viva Favela (quando este post for ar, eu estarei numa cidade que Ipanema é um carro antigo da Chevrolet, não uma o bairro da popozuda que conquistou o Tom Jobim).
Resumindo a ópera, o Viva Favela é um site de jornalismo colaborativo que completou 10 anos na última quinta feira, dia 21 de julho. “Ah, então se trata de um site que cobre os pagodes nas lajes e os principais bailes funks das comunidades cariocas, né?”
Não, amigo leitor sem cultura. O Viva Favela dá a oportunidade de jornalistas e fotógrafos, amadores ou profissionais, a levarem para um grande número de pessoas notícias de seus habitats, coisa que a chamada grande mídia raramente o faz. A maioria dos jornalistas famosos não subiriam o morro nem contando com a ajuda do Capitão Nascimento e dos X-men juntos.
Embora haja muitos problemas, periferias e favelas têm muitas coisas bacanas, mas para a grande mídia (da qual eu também faço parte), é comum evidenciar os acontecimentos ruins. No caso dos jornais, se a manchete negativa dividir espaço com uma mulher com os glúteos à mostra, melhor ainda.
E agora, você caro leitor se questiona. “Pô, mas você não mora no morro, então porque está pagando de Buscapé (o menino fotógrafo do ótimo Cidade de Deus) e se metendo no esquema?”. Simples, porque o Viva Favela, que é um dos braços da Ong Viva Rio, estrapolou as barreiras “territoriaix” e chegou aos quatro cantos do país graças a correspondentes comunitários das periferias. É aí que surge a minha pessoa de havaianas, cabelo pintado de amarelo e falando na língua do xis, mermão.
Resumindo, estive ao lado de mais 13 correspondentes comunitários, pessoas de origens e estilos diferentes: o baiano falador e piadista, a paulistana que fala meu, o mano que curte um rap firmeza, o mineiro que diz que tudo é ‘logo ali’, a menina descolada da ilha catarinense, a cearense sorridente e arretada, o pernambucano das roupas coloridas e mais um monte de estilos. Obviamente, não dá pra não falar da equipe carioca que nos recebeu. O menino fotógrafo que manda bonito no miudinho, a menina socióloga que calça All Star e odeia o FHC e a jornalista suburbana marmiteira fã de uma banda meia boca que canta músicas idem.
Em cinco dias de encontro, rolou muita coisa legal. Debates que contaram com a presença de figuras como o antropólogo e sociólogo Hermano Vianna (idealizador dos programas Esquenta, Central da Periferia e outros do tipo Regina Casé way of life), a jornalista Cristina Dissat (do genial site Fim de Jogo) e muito papo com o pessoal da Viva Rio. Fotógrafos, jornalistas, editores de vídeo, blogueiros, pagodeiros, líderes de comunidades e mais uma “bonde” de gente bacana. Também rolou uma visita ao Morro da Mineira, que faz parte do Complexo do São Carlos, onde foram realizadas oficinas de foto e vídeo. Lógico que eu tinha que fazer algo genial e acabei me perdendo nos becos do morro (detalhes sobre os diálogos entre o perdido e os manos da laje nos próximos posts). Lá encontrei uma criança de cinco anos que duvidou da minha masculinidade por causa do brinco e um caso de assédio sexual explícito.
Para fechar a semana com chave de ouro, o mitológico Circo Voador, que recebeu shows épicos de Cazuza, Legião Urbana, Paralamas do Sucesso e uma banda de uns caras barbudos que cantam Ana Júlia, foi palco pra várias apresentações em comemoração aos 10 anos do Viva Favela.
Houve shows dos Periferas, Luiz Melodia, o rei Gerson King Combo, B. Negão, Elza Soares entre outras atrações. Até mesmo os correspondentes se apresentaram com Rap e Poesia em uma espécie de rádio laje de fronte aos belos Arcos da Lapa. Como eu não sei cantar e meus poemas são mais pobres do que uma letra do El Tchan, fiquei fotografando. O ponto alto da noite foi a apresentação do mito João Black, um cantor do chamando “funk familiar” que usa sapatos italianos, luvas brancas no melhor estilo Michael Jackson Mickey Mouse e levanta até maria-mole derretida com sua alegria.
Chega, já falei demais. Abaixo as fotos. Nos próximos posts, contarei das minhas trapalhadas no Morro do Mineira e dessa cidade maluca e deliciosa chamada Rio de Janeiro. Como diz o Chapolin Colorado Rubro-Negro da Urca: “Siga meus bondes”.
“Defunto não dá autógrafo”.
João Black mito. Sem mais.